Ainda sou jovem pra caralho, mas de que me veste a
juventude, se eu nunca visto os sonhos jovens?Vivo a adolescência de um velho, fatigado e marcado pelos
anos. Inexistentes; impertinentes. Carrego comigo um fardo, preconceitos milenares e dores
musculares. De outra vida, já cansada e esgotada.
Indisposto e pessimista, a mente não acompanha o corpo - que
vergonha. Por isso me escondo um pouco mais, e me isolo muito mais, para viver
minha velhice em plenitude. Para que não haja outros a me criticar a fantasia e
a loucura de escolhas que aumentam os meus anos e me levam mais próximo dos
dias finais.
Quero viver a melancolia romântica das comédias dramáticas,
quero a linearidade de uma vida triste, a esperança me parece um pouco trágica.
Os desafios me assustam, não quero o novo, não quero a incerteza. Não tentarei
e então não terei falhas: viverei conformado na vida de um velho.
O tempo me possui de forma indiscreta, quase vagabunda.
Paralelamente eu o roubo como modo de intensificar minha dor. Platônica. A
experiência que me falta é ocupada pelo medo que me assombra e observações que
me alertam. Absorvi muitos desalentos alheios, riscos são energias desgastadas
em investimentos que falham antes de serem fabricados na linha de pensamento.
Um menino iludido representa as fraquezas que nunca quis
ter. O medo é a desculpa mais usada, e é também a mais honesta. Percebo que só
inverti as ilusões por ser mais satisfatório acreditar estar seguro. Mesmo sem
uma verdade absoluta prefiro fazer uso de menos do que me é oferecido. Perco
disfarces e dissoluções de forma voluntária, não sou sábio como gosto de fingir
ser. Sou só hipócrita.
E como a criança que me veste, cumpro meu papel, não resisto
a um capricho: vivo a gritar, num interminável e continuo chilique infantil
"Não preciso que me julguem pela idade, não serei apenas mais um jovem
tolo!", ainda que eu saiba que isso é tudo que sou e sei ser.