sábado, 16 de julho de 2016

PIB

Lugares num corpo elitista
Rejeitam a rotina natural
Como vírus, doença pandêmica
Num universo virtual de rasos luxos
Que aflige a terra do real

Nove covas

A guerra digital e manipulada
Armazenou robôs de empatia
As novas armas biológicas transcendem
Uma nova tecnologia caduca
Em demagogo estudo de orgia

Hospitais

E cria escravos em afilia a suas máquinas
Que cospem na Praça das Flores
São imundos chauvinistas
De dores alimentados
Cravando edemas incolores

Mil reais

A mercadoria descartável de um dia
Da indústria efetiva e modernista
Passa a vida em prestações
Egoísta em cada pão
Para pagar a morte a vista

Notas novas

terça-feira, 5 de julho de 2016

anos platônicos

       Ainda sou jovem pra caralho, mas de que me veste a juventude, se eu nunca visto os sonhos jovens?Vivo a adolescência de um velho, fatigado e marcado pelos anos. Inexistentes; impertinentes. Carrego comigo um fardo, preconceitos milenares e dores musculares. De outra vida, já cansada e esgotada.
       Indisposto e pessimista, a mente não acompanha o corpo - que vergonha. Por isso me escondo um pouco mais, e me isolo muito mais, para viver minha velhice em plenitude. Para que não haja outros a me criticar a fantasia e a loucura de escolhas que aumentam os meus anos e me levam mais próximo dos dias finais.
      Quero viver a melancolia romântica das comédias dramáticas, quero a linearidade de uma vida triste, a esperança me parece um pouco trágica. Os desafios me assustam, não quero o novo, não quero a incerteza. Não tentarei e então não terei falhas: viverei conformado na vida de um velho.
      O tempo me possui de forma indiscreta, quase vagabunda. Paralelamente eu o roubo como modo de intensificar minha dor. Platônica. A experiência que me falta é ocupada pelo medo que me assombra e observações que me alertam. Absorvi muitos desalentos alheios, riscos são energias desgastadas em investimentos que falham antes de serem fabricados na linha de pensamento.
      Um menino iludido representa as fraquezas que nunca quis ter. O medo é a desculpa mais usada, e é também a mais honesta. Percebo que só inverti as ilusões por ser mais satisfatório acreditar estar seguro. Mesmo sem uma verdade absoluta prefiro fazer uso de menos do que me é oferecido. Perco disfarces e dissoluções de forma voluntária, não sou sábio como gosto de fingir ser. Sou só hipócrita.
      E como a criança que me veste, cumpro meu papel, não resisto a um capricho: vivo a gritar, num interminável e continuo chilique infantil "Não preciso que me julguem pela idade, não serei apenas mais um jovem tolo!", ainda que eu saiba que isso é tudo que sou e sei ser.